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Texto com 7 páginas
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Educação
complementar:
Análise da experiência
Debate as
propostas de extensão da escolaridade básica,
detendo-se nas tentativas de execução e suas limitações;
considera as exigências da sociedade tecnológica e
o dualismo educação-trabalho,
apresentando alternativas para seu encaminhamento.
I. Concepção
Segundo os documentos-fonte,
onde estão expressas, originariamente, as intenções da educação complementar,
e segundo a forma que lhe emprestou na prática a administração, pode-se formular
sua concepção inspiradora nos termos que se seguem:
a) Extensão da escolaridade
Devendo
a educação converter-se de simbólica em real, numa sociedade que depende de
sua eficiência, tornou-se flagrante o descompasso de nosso sistema educacional,
não só quanto às necessidades do País, como também em relação às soluções
alcançadas pela grande maioria dos sistemas de educação de todo o mundo. Tal
inadequação começa pela duração da escolaridade obrigatória, já que não nos
cabe falar aqui do próprio caráter fictício da obrigatoriedade legal.
Em todos os países que ajustaram
a educação às exigências de seu desenvolvimento, o período de escolaridade
obrigatória avançou para um marco, no mínimo, de oito anos, distribuídos,
estes, segundo diferentes critérios, tais como o da escolaridade linear -
a escola única - ou o da escolaridade segmentada, que integra no período obrigatório
cursos de níveis diferentes.
No Brasil, a doutrina
do mestre Anísio Teixeira, principal responsável pela fórmula da educação
complementar à época em que dirigiu o INEP - a doutrina pessoal, e não a que
teve de oficialmente admitir - postulava a escolaridade obrigatória em 8 anos:
4 de escola primária e 4 de escola média. A inviabilidade prática de tal esquema
levou o Diretor do INEP ao que lhe pareceu uma solução intermediária e transitória:
o prolongamento da educação primária a mais dois anos, valendo a etapa complementar
como reforço à educação geral e iniciação em atividades práticas, uma e outra
ao nível das exigências mais elementares de preparo para a vida e o trabalho
na atual sociedade. Solução transitória, sim, até que a definitiva - de 4
mais 4 - se tornasse praticável.
Inspirava igualmente
a corrente liderada pelo professor Anísio Teixeira uma observação estatística:
a deserção maciça de alunos do curso ginasial, além da frustração para estes,
significava malbaratamento de recursos destinados à manutenção dos ginásios.
Por que não instituir, realisticamente, um período de escolaridade viável,
baseado na possibilidade de retenção do sistema, estatisticamente comprovada?
O caráter terminal da educação complementar sanaria os dois inconvenientes:
o da frustração do aluno e o da subutilização da capacidade instalada, na
escola média.
b) Contra o dualismo educação-trabalho
A educação complementar era também um mecanismo estratégico, capaz
de criar uma atitude nova dos que se educavam e da própria sociedade em face
da educação. (Ainda aqui se assinala - neste sentido estratégico - o caráter
provisório do esquema.) A educação tradicional se esgotava na tarefa de fornecer
técnicas intelectuais, condizentes com determinadas formas de inteligência:
a que possui a vocação especulativa ou estética. Era a educação que convinha
às elites tradicionais, cujo papel tanto se apoiava como se exprimia nos dons
que ela aperfeiçoava e nos ornamentos que produzia. Nessa sociedade pré-industrial,
os que tinham educação não trabalhavam, e os que trabalhavam não precisavam
de educação.
Numa sociedade tecnológica,
porém, educação e trabalho se interpenetram, fundindo até certo ponto seus
objetivos. Mas não basta preconizar a novidade: impõe-se vertê-la na própria
estrutura do sistema educacional. Nessas condições, cabe à escola desenvolver
as instrumentalidades práticas ao lado das intelectuais, ambas, de resto,
não exprimindo senão momentos diferenciados do mesmo processo.
Para atender a tal
objetivo, o esquema da educação complementar incorpora à escolarização intelectual
a iniciação em atividades de trabalho, feita em oficinas de artes industriais.
Os alunos dividem seu dia em dois turnos: o de letras e o de artes.
O exercício de manualidades
- antes escamoteado que observado na antiga disciplina chamada "trabalhos
manuais" - utiliza virtualidades desconsideradas pela escola tradicional,
podendo projetar vocações e, em qualquer hipótese, acionar recursos humanos
ignorados pela velha pedagogia. Alongando-se do psicológico ao sociológico,
as manualidades e os trabalhos mecânicos, inseridos organicamente na escola
comum, prestigiavam uma categoria de educação relegada, outrora, às classes
mais modestas da sociedade. Dessa forma, constituir-se-ia também em instrumentos
aplainadores de injustos dualismos sociais, alimentados pela educação.
Nesse esquema, portanto,
os trabalhos manuais e mecânicos marcam uma atitude, integrando no esforço
educacional uma parte desprezada: aquela que a herança clássica, reforçada
pelo dualismo cartesiano, ligava desdenhosamente à matéria. Valem como símbolo
- com a eficiência de todo símbolo sobre o comportamento humano - mas valem
também na prática: a) abrindo caminho dentro da criança e do adolescente a
vocações antes recalcadas; b) afiando-lhes a "inteligência da matéria" e desenvolvendo-lhes
o senso de objetividade - essa sensibilidade da inteligência para o real no
momento em que os sentidos o alcancem e absorvam, constituindo-se, por isso
mesmo, em fonte de toda experiência intelectual; c) conferindo-lhes gosto
e destreza para o trabalho manual e mecânico. Mas há ainda um resultado prático,
cuja importância não é de desprezar: ao lado dos exercícios, essa educação
visa a fornecer as habilitações, não ainda tecnológicas, mas pré-tecnológicas
- e, algumas delas, de utilização doméstica. Completa assim a educação "liberal"
com a habilitação para serviços confiados até há pouco a artesãos e especialistas
de fora, e presentemente, pelas contingências econômicas e pelo sistema de
divisão de trabalho em evolução, reincorporadas à economia doméstica.
c) Uma razão social
A extensão da escolaridade permitiria, ainda, segundo a doutrina que a inspirou, que ficasse coberto pelo esforço educativo o período de vida da criança e do adolescente que vai dos 7 anos até os 14, evitando-se o intervalo de dois anos, entre o término da escola primária e a idade legal do trabalho.
II. Realização
Sob
o impulso do seu idealizador, começou em 1957 a implantação da educação complementar,
continuada pelos sucessores daquele na direção do INEP, e obedecendo ao seguinte
programa: a) ao mesmo tempo que celebrava convênios com os Estados visando
à construção e equipamento de oficinas de artes industriais com recursos federais,
o INEP promovia a formação ou treinamento das professoras, destacando pelo
mérito as que deveriam assumir o encargo da supervisão em cada unidade. O
convênio estipulava também um suplemento de salário para tais professoras,
obrigadas ao regime de tempo integral; b) os Estados escolhiam as cidades
por onde deveria iniciar-se a implantação dos cursos, e os grupos escolares
junto aos quais seriam construídas as oficinas de artes industriais. Instaurou-se
a articulação entre as atividades de classes e as de oficina, segundo o modelo
concebido pelo INEP: um turno de quatro horas para cada categoria.
Vale aduzir, nessa altura,
que a LDB, consagrando a educação complementar nos moldes acima definidos
(art. 26, parágrafo único), concede, no artigo 36, parágrafo único, ao aluno
que houver concluído a 6ª série primária, o ingresso na 2ª série do 1º ciclo,
mediante exame das disciplinas obrigatórias do 1º ciclo.
III. Análise da experiência
Devemos reconhecer, de saída, que os fatos ainda estão mal apurados, não se sabendo com segurança, por exemplo, o que acontece com os concluintes do curso complementar, a clientela deste, o preparo que realmente oferece aos alunos etc. A carência de elementos de avaliação impede-nos de apresentar conclusões definitivas e de tirar a limpo alguns dos postulados que se seguem, na parte teórica desta análise. A esta Conferência cabe discuti-los, assim como chamar a atenção das autoridades e dos especialistas em educação para os pontos essenciais sobre que deverá incidir sua pesquisa para efeitos de avaliação.
a) O reforço da educação tendo em vista as exigências de uma sociedade tecnológica
A
apresentação e análise dessas idéias serão esquemáticas, segundo o recomendado,
e dentro de uma técnica mais provocativa que conclusiva, isto é, a mais aproximada
possível da controvérsia, e a mais distante possível do dogmatismo. Desejo
abrir as questões, e não fechá-las, admitir alternativas, e não reivindicar
soluções unívocas.
Parece-me que o reforço
da educação reclamado pela sociedade tecnológica decorre não tanto de soluções
aumentativas, mas, sobretudo, de soluções qualitativas. A meu ver, o enriquecimento
desejado está sobretudo na apropriação dos grandes princípios e resultados
da ciência moderna, ministrados segundo uma metodologia profundamente prática.
Quando me refiro aos grandes princípios e resultados, não penso no seu refinamento,
mas no nível de generalidade com que atingiram a cultura comum e os hábitos
da vida cotidiana.
Este sentido autêntico
do empírico e do cotidiano como substância da educação comum dispensaria as
soluções dualistas como esta, por exemplo, que distingue entre o ginásio (sem
adjetivos) e o ginásio para o trabalho. A educação pré-vocacional, que forma
para o trabalho criando novas disposições e aptidões, não deve fazer-se ilusões
quanto aos meios de chegar a esse objetivo. Tanto aqui como em outros países
- a França, por exemplo, e talvez pudéssemos generalizar: em todos os países
que não foram ainda capazes de eliminar o dualismo básico dos seus sistemas
educacionais - essa educação com a vocação do trabalho não abandonará
suas hesitações enquanto não se capacitar da heresia implícita no postulado
mesmo em que se baseia.
Está no ensino médio
- dentro do modelo segmentado da escolaridade segundo a estrutura geral do
ensino no País - a complementação adequada da escolaridade obrigatória, tendo
em vista a educação eficiente e integrada (educação-trabalho) ao nível das
condições de trabalho da sociedade moderna.
A meu ver, os educadores
brasileiros, a começar pelos que lideram a educação nacional - fora ou dentro
do Ministério - devem voltar-se séria e urgentemente para a análise conjunta
das experiências - a da educação complementar e a do ginásio para o trabalho.
Ambas querem a mesma coisa: uma linha de continuidade que vai do primário
ao médio; e incidem ambas, data venia, em equívocos que lhes são, em
grande parte, comuns. A superação dos equívocos servirá às duas e poderia
determinar, quem sabe, o emergir de uma terceira posição, talvez a mais singelamente
verdadeira.
A pretendida extensão
da escolaridade nos moldes atuais talvez não chegue a acrescentar nada de
substancial à escola primária; prolonga-lhe o ensino ineficaz, deteriorado,
segundo a caracterização feita, insistentemente, pelos nossos educadores.
A parte de educação geral pouco enriquece, se continuam os padrões
tradicionais, em relação tanto aos professores quanto à metodologia. A parte
de educação prática, a meu ver, tem pouca objetividade. O que oferecem
as oficinas de artes industriais é demais, como exercício de manualidades,
e de menos, como formação de virtualidades para o trabalho (ver letra b, do
item 1). A inadequação, no caso, é de dois tipos: do instrumental e dos métodos
pedagógicos.
É bastante limitada
a eficiência de ambos, segundo nossa impressão, pois não incorporam, conscientemente,
as intenções que deveriam orientá-los. As professoras parecem despreparadas
para manejar a engrenagem segundo determinados objetivos pedagógicos em vez
de subordinar-se, elas próprias, à eficácia peculiar da engrenagem. Assim
mantidas as condições de funcionamento dessas classes, seria impossível retirar
os esperados efeitos da aprendizagem fertilizada pela experiência sensorial,
o contato com a matéria, o uso das mãos e de todo o corpo; uma aprendizagem
que desenvolva o sentido do concreto, a objetividade e a precisão, ao lado
de certas capacidades plásticas e estéticas.
Ora, ainda que todos
esses efeitos fossem alcançados pelo sistema em discussão, ainda assim, teríamos
alguma hesitação em aceitá-lo como o mais adequado para os objetivos que,
a nosso ver, se impõem presentemente à escolaridade fundamental e obrigatória.
Acontece, ainda, que mudou
o contexto educacional no País, depois da instituição da educação complementar,
com a criação dos ginásios para o trabalho. A meu ver, a importância dessa
novidade está, fundamentalmente, menos nas soluções até agora encontradas
que no empenho de fundir educação e trabalho na escola média: como forma de
adaptação da própria educação à sociedade industrializada e democrática e
às contingências atuais do Brasil. Tomando a fórmula - não pelo conteúdo,
mas pela aspiração que traduz - poderemos admitir que está aberto o caminho
para a incorporação gradativa do ciclo ginasial ao período de escolaridade
obrigatória. (Reitero, neste passo, que minha divergência com o "ginásio para
o trabalho" se refere à estratégia adotada e refletida na própria denominação,
que parece uma concessão, ainda, ao dualismo tradicional. Todo o esforço do
MEC deveria concentrar-se, segundo entendo, na superação do dualismo, por
um ginásio único.)
Cabe, ainda, referir a exigência
do dia integral, contida na fórmula da educação complementar. Exigência legítima
em si mesma, mas irrealizável em nosso País na atual conjuntura, salvo em
casos isolados, por assim dizer arquétipos, insuscetíveis de generalização.
Não é o caso de condenar algumas dessas experiências - do dia integral - que
vêm funcionando magnificamente, mas de situá-las na sua justa perspectiva:
de arquétipos, que respondem a ambiciosas aspirações do país do futuro, depois
que tiverem sido atendidas exigências mais elementares e urgentes.
b) O dualismo educação-trabalho
Um
dos objetivos da educação complementar, como vimos no início, era oferecer
uma alternativa aos alunos que não pudessem fazer o ginásio. Evidentemente,
a alternativa deveria aproveitar, especialmente, a duas categorias de adolescentes:
os desprovidos de meios para realizarem cursos longos, e os desinteressados
pela formação predominantemente intelectual do curso secundário.
Todavia, insistindo-se
na alternativa, insiste-se, por isso mesmo, numa discriminação de efeito contrário
ao desejado, isto é, a democratização. Primeiro, por não se tratar de uma
alternativa real, isto é, que uma proposição valha a outra. Dois anos a mais
na escola primária não valem o ginásio em eficiência e prestígio. É verdade
que os idealizadores da educação complementar reconheciam tratar-se de alternativa
para os que fracassavam ou, por qualquer motivo, se evadiam da escola média;
os que, portanto, nesta demoravam só uma parte do tempo do curso, a qual bem
poderia corresponder à duração do curso complementar. Entretanto, os fracassos
e deserções pedem uma outra saída para o curso médio, e não para sua duração;
e a existência de condições financeiras para que todos, indistintamente,
possam realizá-lo até o nível das necessidades educacionais básicas em nossa
sociedade - digamos, o ginásio.
Até que essa meta
seja alcançada, é preciso reconhecer que persiste o dualismo, e procurar a
melhor forma de atenuá-lo, que seja também o caminho para superá-lo. Ora,
a solução propiciada pela educação complementar é falha por duas razões: uma,
psicológica, e outra, legal. Razão psicológica: o ensino primário, mesmo ampliado,
não pode suportar o cotejo com o ensino médio em termos de prestígio. Razão
legal: a inferioridade em que a LDB colocou os dois anos complementares, equivalentes
a um ano ginasial. A própria Lei cristaliza a discriminação.
Nessas condições,
seria mais realista a complementação no nível médio, com a integração nela
de parte do ginásio. Vantagens dessa opção: 1) o dualismo seria reduzido à
duração do curso, sem envolver a qualidade; 2) ficaria marcado o caráter provisório
do mecanismo, dele podendo emergir o impulso crescente para sua complementação,
isto é, o prolongamento de dois para quatro anos.
Passando das idéias
aos fatos, e admitindo a precariedade dos dados existentes, acredito ser legítima
a impressão de frustração da experiência. A esperança de que o ensino complementar
viesse a constituir-se em alternativa do ensino médio, para os que não pudessem
seguir este último, parece desmentida pelos fatos. São muito poucos os que
se matriculam no complementar, e dentre estes, ainda assim, por um paradoxo
aparente, alguns não o escolhem como roteiro, senão como meio de se prepararem
ao exame de admissão. A educação complementar se converte, muitas vezes, no
seu oposto: em educação propedêutica; em vez de servir aos que não podem ou
não desejam a formação acadêmica - ou, em qualquer hipótese, a educação secundária
- serve exatamente aos que se preparam para ela; em vez de atender a uma camada
mais desfavorecida da população, fá-lo a uma fração privilegiada, em condições
de manter por mais tempo seus filhos na escola - inclusive na escola primária,
visando ao ciclo médio. Dessa forma, em vez de abrandar o dualismo, o esquema
o exacerba.
Em última análise, a educação
complementar, como fórmula, não parece eficaz contra a discriminação tradicional
entre educação popular e educação das elites; vale sobretudo do ponto de vista
quantitativo, oferecendo a todos mais tempo de escolaridade. Assim mesmo,
é bastante problemático que a tempo, no caso, corresponda qualidade.
Verifico, ao termo
desta análise, os equívocos em que, provavelmente, veio a enredar-se a educação
complementar: pretendia drenar o afluxo para o ensino médio, de candidatos
sem condições de nele fixar-se e, ditatorialmente, passou a atrair, sobretudo,
os candidatos ao ensino médio; seria uma solução para as classes mais modestas,
e há indícios de que esteja servindo aos que podem conservar os filhos na
escola por mais tempo, como propedêutico para o exame de admissão; reduziria
o dualismo entre a educação do povo e a das elites, e é possível que venha
a agravá-la; concorreria para suprir deficiências de um ensino primário empobrecido,
e talvez esteja apenas prolongando essas deficiências, pois se trata de uma
solução aumentativa e muito pouco qualitativa; fazia apelo ao dinamismo de
novas atitudes e símbolos, mas se observa a impotência destes diante de realidades
sedimentadas.
IV. Perspectivas
Minhas
sugestões, já em parte antecipadas no item da análise, podem consubstanciar-se
nos seguintes pontos:
a) O esquema de escolaridade
obrigatória deverá constituir-se à base de 4 anos de escola primária, mais
4 de escola média, correspondentes ao ginásio, que deverá ser único, apesar
de flexível.
b) Como solução transitória,
e numa perspectiva gradualista, a etapa ginasial da escolaridade obrigatória
será reduzida a dois anos, podendo o curso correspondente coincidir com os
dois primeiros anos do ginásio devidamente reformulado, especialmente nas
localidades carentes de ginásio.
c) A escolaridade
de seis anos deve constituir não uma simples possibilidade, mas esquema único
nas comunidades urbanas, adotada uma escala de preferência segundo a importância
dessas comunidades.
d) A estrutura didática
do curso de dois anos deve ajustar-se, quanto ao conteúdo e aos métodos de
ensino, às finalidades e à duração do próprio curso, bem como às condições
de idade e de aprendizagem dos alunos, ressalvadas, no que concerne ao currículo,
as prescrições da LDB e a jurisprudência do CFE. Os métodos de ensino deverão
primar pelo seu caráter integrativo, evitando a fragmentação costumeira dos
currículos da escola média.
e) Quanto à formação
dos professores, entre as várias perspectivas possíveis, merecem destaque,
basicamente, duas: a faculdade de educação, em vias de substituir a de filosofia
nas universidades; e o instituto de educação. As atuais faculdades de filosofia
já dispõem de um mecanismo - as licenciaturas do 1º ciclo - que poderia inspirar
a criação do modelo especificamente adaptado ao objetivo que se tem em mente.
Acredito que a hipótese
figurada neste trabalho visa, no fundo, a restaurar a ambição de Anísio Teixeira
da escolaridade obrigatória, incluindo o 1º ciclo do nível médio, e ao qual
teve de renunciar, temporariamente, diante das limitações impostas pelas circunstâncias,
à época de sua gestão no INEP. Em todo caso, as considerações que apresento
a esta Conferência, confrontadas com o modelo do mestre Anísio Teixeira, não
pretendem negar esse modelo, mas, ao contrário, valorizar-lhe as intenções
mais profundas, ainda que implícitas, dentro de um novo contexto educacional.
Durmeval Trigueiro Mendes
Trabalho apresentado à III Conferência Nacional de Educação.
Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. Rio de Janeiro, v. 47,
n. 106, p. 219-225, abr./jun. 1967.