("Uma política de ensino". O Estado de São Paulo, 26 ago. 1962)




"Os inúmeros problemas do ensino superior brasileiro, que se agravaram nestes últimos anos pela inoperância da burocracia escolar, encontraram agora no titular da Diretoria do Ensino Superior, prof. Durmeval Trigueiro Mendes, a inteligência e a vontade capazes de formular e executar o programa de expansão, de renovação e aperfeiçoamento do nosso sistema de educação superior de que tanto necessitamos. O desordenado crescimento da rede de escolas de nível universitário, a ausência de adequação do sistema educacional com o mercado de trabalho, o desequilíbrio entre os diversos tipos de cursos superiores no qual se patenteiam as insuficiências gritantes dos quadros de formação de técnicos de nível médio e superior, a falta de um programa orgânico flexível e racional de financiamento às escolas, tudo isto andava a exigir providências altas e urgentes destinadas a eliminar definitivamente as causas geradoras destas graves anomalias. A verdade é que, absorvendo aproximadamente a metade do total dos recursos do Ministério da Educação e Cultura, o ensino superior, por fatores de ordem qualitativa e principalmente por razões de natureza estrutural, não contribui, nas condições devidas, para resolver os problemas decorrentes de nosso desenvolvimento econômico e social. Impõe-se, nestas condições, a elaboração de planos precisos nos quais se equacionem, dentro de uma escala de prioridades objetivamente estabelecida, todas as questões do ensino nacional.

          Antes da gestão do prof. Trigueiro Mendes nenhuma providência foi tomada no sentido de articular setores diversos da administração federal, com vistas à realização de uma política de ensino superior. Cuidou, nestas condições, o ilustre professor, de estabelecer, de um lado, uma vinculação mais estreita entre a Comissão Supervisora do Plano dos Institutos (COSUPI) e a Diretoria do Ensino Superior, e, de outro, entre estes dois órgãos e a Campanha de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior (CAPES) e o Conselho Nacional de Pesquisas, com o objetivo de realizar um plano racional de financiamento às nossas instituições de ensino superior. Eliminou-se, desta forma, a superposição dos programas de financiamento por intermédio de uma melhor definição das áreas a que deverão dar assistência financeira aquelas agências federais: a de tecnologia, a de formação de pessoal e a de pesquisa básica. No âmbito da Diretoria do Ensino Superior e da Comissão Supervisora do Plano dos Institutos, traçou o prof. Trigueiro Mendes planos diversos sobre a formação de técnicos, a formação e aperfeiçoamento do professor universitário e a reorganização universitária, tendo em vista, sobretudo, disciplinar a expansão do ensino superior e adequar este sistema de ensino às condições do mercado de trabalho.

          É realmente surpreendente a obra já realizada pelo Diretor do Ensino Superior do Ministério da Educação e Cultura. No curto espaço de alguns meses de administração, o prof. Trigueiro Mendes corrigiu os desmandos e abusos de seu antecessor e traçou um programa que produzirá, com o tempo, resultados práticos de grande alcance. Poderemos mencionar, por exemplo, o plano elaborado em colaboração com a CAPES dos Centros de Treinamento de Professores, pelo qual algumas instituições de ensino e de pesquisa mais adiantadas se transformarão, sem prejuízo de suas atividades normais, em Centros que poderão servir, com a organização de um sistema de bolsas, a todas as universidades nacionais. Poderíamos ainda mencionar os empenhos da Diretoria do Ensino Superior no sentido de estabelecer critérios para o estudo sobre a regionalização do ensino superior e o plano de formação de técnicos destinado a eliminar o déficit de engenheiros com a ampliação do quadro de matrículas e a criação de novo tipo de escola de engenharia. Estes exemplos demonstram sobejamente que o atual Diretor do Ensino Superior é um administrador avisado, que sabe onde residem as falhas da nossa estrutura universitária e sabe também como corrigi-las. Seria, portanto, na altura em que se encontra a execução de planos tão bem elaborados, um perigoso retrocesso permitir o retorno dos que nada fizeram durante os anos em que estiveram à frente da Diretoria do Ensino Superior. A orientação adotada pelo prof. Trigueiro Mendes e o empenho com que se atirou à realização de seu programa constituem suficientes garantias do progresso sempre crescente de nossas instituições de ensino."


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